Nick Hornby, em seu ótimo e fundamental livro "Febre de Bola", ao abordar a relação futebol-sofrimento nos diz: " Não foi o tamanho da multidão que mais me impressionou, no entanto, nem a liberdade que os adultos tinham de gritar a palavra Punheteiro! o mais alto que quisessem sem atrair a menor atenção. O que mais me impressionou foi o quanto a maioria dos homens à minha volta detestava, realmente detestava, estar ali. Até onde deu para perceber, ninguém pareceu gostar, na acepção que eu tinha dessa palavra, de nada que aconteceu ali naquela tarde. Poucos minutos após o pontapé inicial já surgira uma raiva verdadeira ( "Você é uma vergonha, Gould. Ele é uma vergonha" " Cem pratas por semana? Cem paus por semana? Eles devem me dar isso só pra te ver jogar".); durante o desenrolar do jogo a raiva foi se transformando num sentimento de revolta, e depois pareceu azedar de vez e virar um descontentamento silencioso e ressentido."
Mais adiante Hornby finaliza seu raciocínio: " Eu já comparecera a eventos públicos antes, é claro... Mas aquilo era diferente. As platéias de que eu participara até então haviam pago para se divertir, e embora de vez em quando se notasse uma criança impaciente ou um adulto bocejando, eu nunca observara rostos contorcidos de fúria, desespero ou frustração. A diversão como sofrimento era uma idéia inteiramente nova para mim..."
Nick Hornby estabelece o contato com este mundo doentio, que carece de certa lógica e coerência, e dele começa a fazer parte, a partir de suas idas à Highbury, a fim de acompanhar as partidas de seu clube de coração, o londrino Arsenal, que na época ( final dos anos 60, mais precisamente 1968) praticava um futebol parecido com o que o nosso São Paulo vem praticando nesse ano de 2009, com o agravante de um jejum de títulos que já durava quinze longos anos.
Verdade que nós são paulinos, nunca tivemos que conviver com tamanha fila, ao contrário de nossos rivais de estado, mas assistir aos jogos do São Paulo nesse improdutivo ano, mesmo nas partidas em que conquistamos os três pontos, como na vitória de hoje contra o Santos por 2x1, tem ocorrido mediante sofrimento em doses excessivas. Diferente de nossas três últimas partidas, onde saímos de campo sem obter uma vitória, no jogo de hoje ela veio, mas de forma sofrida e no limite; pois assim como nosso terceiro gol poderia ter saído a qualquer momento, o gol de empate santista, que colocaria tudo a perder também, e se não houve mais nenhum gol para lado algum, foi devido a fragilidade das duas equipes presentes em campo.
Devemos nos lembrar que não existe futebol sem decepções e sofrimento. Torcer para um time de futebol implica em não abandonar o clube e o estádio nos momentos difíceis, conseguir conviver com as adversidades, e manter a confiança de que seu time uma hora dará a volta por cima, é o que irá diferenciar os torcedores de verdade dos simpatizantes.
Eu amo sorrir e chorar com meu time, e você?
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