quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Amor em jogo

Não sei, mas acredito que se eu estivesse envolvido em um relacionamento sério, fatalmente eu enfrentaria alguns problemas para estar presente no Morumbi ontem a noite. Como fazer uma pessoa, provavelmente com pouco ou nenhum envolvimento afetivo com o futebol, entender e aceitar que um jogo de Campeonato Paulista, disputado às 22:00 horas em uma quarta-feira chuvosa é mais importante e interessante do que por exemplo, uma sessão de cinema, um jantar não sei onde ou uma visita a casa de um amigo ou parente?
É complicado, e a verdade é que eu não saberia como proceder diante de uma situação como esta, acho que eu sequer me preocuparia em tentar fazer alguma coisa a respeito. Meu egoísmo e minha irresponsabilidade talvez me levassem a agir da maneira como eu sempre fiz, ignorando tudo e indo para o jogo sem me preocupar com nada ou ninguém. Contudo, comportar-se desta forma não seria uma atitude muito inteligente, as consequências possivelmente não seriam nada agradáveis.
O que eu sei, é que um jogo como o que São Paulo e Ponte Preta disputaram ontem tornaria as coisas ainda mais difíceis. Imagine ela perguntando como foi o jogo e você sendo obrigado a responder que a partida foi uma merda, que o São Paulo não jogou porra nenhuma, que não conseguimos fazer o gol da vitória e que o estádio estava vazio. Mentir seria a melhor saída, do contrário todas as coisas negativas que eu dissesse sobre o jogo seriam guardadas e usadas contra mim na próxima vez que fosse necessário discutir a relação futebol/amor.
Nick Hornby no essencial Febre de Bola ilustra bem essa situação: " Se disséssemos a verdade todas as vezes, seríamos incapazes de manter um relacionamento com qualquer pessoa do mundo real. Apodreceríamos sozinhos com nossos programas do Arsenal, nossas coleções de discos de rótulo azul originais da Stax ou nosso spaniels do Rei Charles,  enquanto nossos devaneios de dois minutos se alongavam; aí perderíamos nossos empregos e pararíamos de tomar banho, fazer a barba e comer; acabaríamos deitados no chão em meio à nossa própria imundice, voltando a fita sem parar na tentativa de decorar todos os comentários, inclusive a análise profissional de David Pleat, sobre a noite de 26 maio de 1989."
O futebol será sempre a relação de amor mais intensa, pura, verdadeira, obsessiva e doentia que um torcedor de verdade terá em sua vida. Mais uma vez citando Hornby: "Por que razão esse relacionamento, que começou como uma mera gamação colegial, já dura quase um quarto de século, mais do que todos os relacionamentos que travei por vontade própria? E por que essa afinidade consegue sobreviver aos meus periódicos sentimentos de indiferença, tristeza e ódio bastante reais?" Admito que essa não é uma pergunta nada fácil de ser respondida, sobretudo se a resposta tiver que ser dada para uma pessoa que por mais que você ame, está em desvantagem afetiva.

2 comentários:

  1. Ainda não li o 'Febre de Bola'. Já tenho o que fazer nesse Carnaval.

    Obrigado pelo conselho de leitura, involuntário sim, mas completamente válido.

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  2. Rafael,
    Esse é o meu livro favorito, e a cada releitura ele fica melhor.

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