sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Épico


Dois meses atrás quando comprei as passagens para Belo Horizonte, o São Paulo agonizava na zona de rebaixamento e o Cruzeiro despontava como um dos favoritos ao título. Ontem ao meio dia quando embarquei rumo à capital mineira, o São Paulo continuava em perigo afundado na tabela e o Cruzeiro mantinha a liderança com o a taça praticamente na mão.
Enfrentaríamos um time muito superior ao nosso, com o agravante de estarmos desfalcados dos dois jogadores mais experientes do elenco, o que nos deixava ainda mais vulnerável. Não dava para esperar muita coisa do São Paulo, uma vitória ou até mesmo um empate era algo improvável, e dada nossa situação periclitante no campeonato uma derrota seria catastrófica.
Não tínhamos escolha, era vencer ou vencer, do contrário fatalmente voltaríamos a ocupar uma das quatro últimas posições na tabela. Nossa missão beirava o impossível, eu não conseguia sequer forjar uma vitória são-paulina na minha cabeça. Tentava imaginar a defesa do Cruzeiro entregando um gol de graça para nós, ou o ataque do São Paulo em uma noite inspirada resolvendo a parada; porém bastava olhar nossa escalação e sentir o clima criado pela torcida adversária ao redor do estádio para constatar que meus pensamentos eram absurdos.
Ingressos com preços abusivos (R$ 120,00 uma arquibancada, mais caro que a passagem aérea) e um horário indecente, nada disso foi problema para os mandantes comparecerem em peso no Mineirão. Em contagem regressiva para a comemoração de um título iminente, a parte azul de Belo Horizonte fez sua parte. Para eles aquele não era um jogo qualquer, era uma decisão e eles estavam confiantes, o que me deixou ainda mais cético em relação a um resultado positivo do São Paulo.
Diferente do Maracanã, que ao meu ver perdeu toda sua aura após as reformas que sofreu para atender as exigências da Fifa, as intervenções feitas no Mineirão não fizeram com que ele se descaracteriza-se a ponto de perder sua identidade. Hoje o Mineirão é um estádio moderno, todavia quase tudo ali ainda funciona à moda antiga- a torcida assiste os jogos em pé ignorando os lugares marcados, ninguém tenta pintar seu rosto ou oferecer bexigas em forma de animal, nada de monitores querendo corrigir sua postura e o apetitoso tropeiro ainda alimenta os torcedores.
Com poucos minutos de bola rolando já dava para perceber a diferença técnica entre as duas equipes. Não é que o Cruzeiro dominava a partida de forma absoluta, a questão é que era nítido que do lado deles os jogadores eram capazes de pensar e tocar a bola ao mesmo tempo, o que faz toda uma diferença. Se faltava qualidade, sobrava empenho por parte dos jogadores tricolores. E foi assim, na base da disposição que conseguimos equilibrar a partida e ir para o intervalo em igualdade no placar.
Conforme o tempo passava o São Paulo se acertava, passamos a levar algum perigo à meta adversária e a torcida do Cruzeiro que era toda empolgação ficou apreensiva e em silêncio. Foi neste exato momento que eu senti que nossa sorte poderia mudar, quando dentro de campo e na arquibancada os papéis se inverteram e a confiança mudou de lado. Era o São Paulo quem estava no comando agora, e soubemos aproveitar muito bem isso.
Dos dois lances eu me recordo apenas do enorme estrondo produzido pela torcida na comemoração dos gols e de ficar completamente enlouquecido, pulando alucinadamente e abraçando qualquer um que passasse na minha frente. Foi uma vitória épica, sem dúvida alguma uma das maiores e mais significativas que já comemorei fora do Morumbi. Sei que ela jamais será esquecida, ficando para sempre eternizada dentro de mim não apenas como um grande momento futebolístico, mas como um dos grandes momentos da vida.


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